"Luz, câmera, ação", essas três palavras resumem a essência do audiovisual nas últimas décadas. Mesmo com a chegada da internet nos anos 1990, o modo de produzir a comunicação que mistura áudio e vídeo se manteve pouco alterado — até porque conteúdo em vídeo na internet demorou para aparecer em larga escala. O que mudou de lá para cá foram as plataformas e o formato das produções no mundo online.
A partir de agora, o setor audiovisual pode estar diante de mudanças profundas que podem ressignificar todo o ecossistema. Estamos falando do audiovisual na era do tokens não fungíveis (mais conhecidos como NFT, na sigla em inglês). Para quem ainda não está familiarizado com o termo, trata-se de um ativo digital baseado na tecnologia blockchain que representa objetos físicos do mundo real, como obras de arte, desenhos, músicas, games, vídeos e afins.
No audiovisual, as marcas que querem inovar e ir além da câmera e da tela podem aproveitar formas de transformar os consumidores em protagonistas, dando voz a eles e autonomia para que façam parte das histórias a serem contadas. Assim, o nível de engajamento tende a ser maior dada a experiência mais imersiva.
O metaverso, com sua mescla de realidade aumentada (RA) com realidade virtual (RV), é um bom exemplo desse fenômeno que promete abrir novos horizontes para as estratégias audiovisuais.
Há oportunidades promissoras na fusão do cinema com a tecnologia, e as iniciativas começam a despontar. Uma delas, repercutida pela CNN, é a plataforma Kinobaum, que funciona como uma loja de NFTs visuais para cenas de filmes e séries. Criada pelo cineasta brasileiro Marcos Seneor, seu objetivo é disponibilizar gêneros variados de arquivos de vídeo - de manobras de skatistas a videoclipes musicais - para que os produtores possam criar coleções e comercializar seus itens a preços fixos ou leilões. A partir da tokenização dos arquivos, os proprietários poderão oferecer as obras para a base de fãs, investidores ou entusiastas dos criptoativos.
O terreno das tecnologias é extremamente fértil para a implementação de inovações no mercado audiovisual. Rafael Coimbra, editor-executivo de conteúdos digitais da MIT Technology Review Brasil e diretor do TEC Institute, em entrevista ao site TelaViva, afirmou: "Imagino um futuro em que, mais do que produtores de filmes, teremos programadores deles, no sentido de que pessoas farão filmes usando apenas as tecnologias. Estamos em um processo de captura de padrões de dados em que a inteligência artificial (IA) tem um papel fundamental. As máquinas, em algum momento, em breve, vão capturar não só imagens estáticas, mas também padrões de interpretação de atores e atrizes".
O mercado de NFT e as marcas
Entre os benefícios esperados para marcas que querem apostar em NFTs, destaca-se o engajamento com uma comunidade que normalmente tem altos índices de fidelidade.
Diego Ortiz, cofundador da agência de marketing digital Chilli, contou ao site Adnews que as empresas podem recompensar os fãs mais engajados para torná-los "donos de projetos", ganhar buzz de forma espontânea na mídia, realizar colabs com outras marcas e influenciadores, bem como colher vantagens financeiras a partir da venda de ativos, de royalties sobre os direitos autorais e da realização de eventos.
O mercado de NFTs se desenvolveu rapidamente. Em 2021, sete anos após sua criação, atingiu o valor de US$ 15 bilhões, segundo a consultoria SkyQuest Technology, que prevê altas ainda mais impressionantes para os próximos anos.
Mas a realidade das previsões pode não ser tão positiva. A mesma velocidade meteórica que gera ganhos expressivos pode acarretar perdas severas, e foi o que aconteceu em 2022. As transações de compra e venda de NFTs desabaram 92% em 2022, em comparação ao pico registrado em 2021, de acordo com os dados do site NonFungible.
O mercado de NFTs é altamente volátil devido à natureza especulativa dos ativos — como são transações de objetos exclusivos, os preços podem flutuar em pouco tempo e, muitas vezes, de forma até incompreensível. Porém, dentro do universo do marketing, filmes publicitários e estratégias de aproximação com o cliente podem usar a tecnologia para se destacar da concorrência e oferecer uma experiência única aos consumidores.