Empreendedorismo

O que ir pro bar me ensinou sobre como avaliar custo de dívida x equity e quando cada um é apropriado

Por:
Federico Pineda

TL;DR:

  • Dívida não é um instrumento que é utilizado quando um negócio está em apuros. Pelo contrário, usar dívida durante momentos positivos pode ajudar uma empresa a ganhar eficiência e escalar.
  • Dívida é um instrumento financeiro que, usado de forma responsável, torna sua estrutura de capital mais eficiente.
  • Equity é a forma mais cara de se capitalizar, já que tem maior risco para o investidor e resulta na venda de ações na empresa.
  • O custo do equity é implícito, difícil de quantificar e muda a partir das contrapartidas.
  • Como tudo na vida, fazer financiamentos é uma questão de equilíbrio. Tem espaço para equity e tem espaço para dívida. O importante é combinar os dois para ter o melhor caminho de crescimento.

Depois de 10 anos nos EUA e ter nascido e crescido na Venezuela, decidi deixar minha carreira na JP Morgan para vir para o Brasil e me unir à Divibank, liderando a área de mercado de capitais, focada na captação de recursos (dívida + equity). Como de costume numa startup, o trabalho consome grande parte do seu dia, dentro e fora do "horário comercial”. Desde o início da minha jornada na Divibank, já passava pela minha cabeça os desafios de captar dívida, equity, acertar nos KPIs, etc.

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Antes de explicar o que ir pro num bar me ensinou sobre como avaliar custo de dívida x equity e quando cada um é apropriado, é importante entender a diferença entre dívida e equity na construção de uma estrutura de capital ideal. E, óbvio, explicar como as considerações de estrutura de capital, dívida e equity podem estar presentes quando você se muda para um novo país e quer conhecer pessoas novas.

Parte 1: Estrutura de capital

Toda empresa tem uma estrutura de capital que financia as operações e seu crescimento. Ela é composta pelo equity e dívida da empresa. Equity é o valor da empresa após liquidação de ativos e pagamento de dívidas que fica para seus acionistas ou propriedade residual. Dívida é o dinheiro que a empresa fica devendo para uma outra contraparte, como por exemplo, uma dívida corporativa.

Agora, se o valor da empresa é a soma de equity + dívida, como sei qual das duas é apropriada para minha empresa? A realidade é que não tem resposta certa e a escolha depende das necessidades e do momento de cada empresa. Como toda decisão, acaba sendo um tradeoff entre as possibilidades de captar equity ou dívida e seus respectivos custos.

Para ter acesso a equity (por exemplo, uma capitalização da empresa ou aporte de capital), você precisa de pessoas que queiram investir (geralmente via aporte de capital) na empresa em troca de um percentual dela (tornando-se acionista e donos de uma parte da empresa), acompanhando sua empresa mais ao longo prazo.

Para ter acesso a dívida, você precisa de pessoas que queiram investir na empresa em troca de uma taxa de retorno pré-estabelecida (geralmente juros) e o retorno do valor principal investido. Há estruturas de dívida mais complexas com perfis de retorno diferentes (como kickers de equity via warrants, que dão a opção ao investidor de comprar uma participação na empresa num futuro), mas para este texto vamos considerar a dívida em sua forma mais básica.

Sobre os custos

O custo da dívida é mais baixo e, no geral, é mais fácil de quantificar: o custo desse capital é a taxa de juros sobre o dinheiro financiado (falaremos mais sobre isso adiante). Como a dívida tem prioridade na liquidação da empresa, é um capital com menor risco, custo e retorno.

No caso de equity, é um custo maior, implícito e vai variar dependendo da pessoa que faz a análise (também falaremos mais sobre isso adiante). No caso de common equity, não há  pagamento de juros e os dividendos são pagos de forma discricionária. Como capital via equity tem menos prioridade na liquidação da empresa, o risco, custo e retorno são maiores.  

“Mas, Federico, como consigo comparar o custo de dívida com equity se um custo é quantificável e o outro é implícito?”  

Essa é a pergunta de R$1 milhão. Siga lendo que já entramos no bar (ou melhor, na explicação).

Parte 2: Dívida
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Nessa parte, quero tocar em três pontos principais:

  1. Como saber meu custo de dívida?
  2. Quanto de dívida é apropriado?
  3. Quando usar dívida e por que ter dívida pode ser importante para uma estrutura de capital mais eficiente?

Conforme falado anteriormente, o custo da dívida pode ser tão simples quanto a taxa de juros sobre o principal financiado. Se você financia R$100 e paga R$10 em juros por ano, seu custo de dívida é de 10%.

O nível de dívida apropriado para a sua empresa vai depender de seu setor e das suas necessidades. Alguns setores precisam de muita dívida (como mineração, E&P, utilities, etc) e outros setores precisam de menos (TI, healthcare, etc) para financiar as suas operações. Para o comércio digital, muitas vezes o crescimento é financiado via investimento em marketing digital ou compras de estoque. Estando ciente do tipo de negócio, o importante é manter um fluxo de caixa que permita gerenciar esse financiamento (índice de alavancagem baixo/índice de cobertura de juros alto).

O momento ideal para acelerar seu crescimento com dívida é justamente quando você não precisa dela. Pode parecer estranho, mas faz sentido: quando uma empresa está bem capitalizada, seu perfil de risco é menor e o custo dessa dívida acaba sendo mais baixo. Captar dívida torna sua estrutura de capital mais eficiente e te permite crescer e valorizar sua empresa com mais apoio.

“Mas, Federico, eu estou bem de caixa, não preciso pegar financiamento de dívida”, eu já ouço você dizendo.  

Bom, hora de entrar no bar!

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Depois de mais um dia de trabalho na Divibank, cheguei no bar: gente bonita, cerveja gelada, "Várias Queixas” dos Gilsons rolando, só consegui fechar os olhos e curtir. Assim que abri meus olhos daquele transe fui dar um “oi” para diferentes pessoas, cada uma se apresentando de uma maneira específica.

É sempre assim nos bares, encontramos vários tipos de pessoas. Com algumas pessoas nós temos um papo fácil, tomamos algumas cervejas e damos boas risadas - mas sabemos que são amigos de encontros menos frequentes, ainda que sempre divertidos, aproveitando sempre da melhor maneira. Vamos chamá-las de Pessoa A. E temos a Pessoa B, as pessoas que logo no primeiro papo temos uma boa química, marcamos de sair mais vezes e em poucos meses sabemos que viramos amigos pra vida toda. A Pessoa A e a Pessoa B participam de momentos diferentes na sua vida e as duas podem ter um impacto positivo na sua história, amadurecimento e experiências.

A Pessoa A é aquela que te traz um impacto positivo no futuro próximo. A Pessoa A, assim como um financiamento, torna sua estrutura de capital mais eficiente e te fortalece para o futuro. O melhor momento para procurar a Pessoa A é quando você está bem e confiante - afinal, ninguém quer fazer amizade com uma pessoa chorando no bar. Da mesma forma, quando você está bem capitalizado, é quando consegue financiamento nos melhores termos e de forma mais saudável.

Parte 3: Equity

Agora vem a parte difícil: como saber qual é meu custo de equity e quanto equity deveria utilizar para me capitalizar?

O custo de equity é considerado o equivalente ao retorno requerido por investidores para assumir o risco de ser dono de um pedaço da empresa. Há várias metodologias para calcular esse custo (como a Capital Asset Pricing Model, ou CAPM), com variáveis como beta e prêmio de risco envolvido. Esse custo pode variar desde uns 10% até se aproximar ou superar os 100%. No caso de uma startup, esse custo fica mais próximo dos 100% do que dos 10%. No fim do dia, o retorno requerido vai depender do investidor conforme sua análise sobre o risco da empresa. É por isso que o custo de equity é implícito, invisível e difícil de medir.

“Mas, Federico, ainda não consegui entender: como assim equity é um custo implícito e diferente para cada pessoa?”  

De volta ao bar!

No bar, em um dia de sorte você pode encontrar a sua Pessoa B, uma pessoa que pode te acompanhar durante muitos anos e te apoia em todos os momentos. Lembre que a Pessoa B não é fácil de encontrar e você tem que ter muito cuidado sobre como e quando abordar, afinal ela permanecerá um bom tempo com você. Estar aberto para a Pessoa B também depende do seu momento de vida. No caso do equity também, é importante avaliar qual o melhor momento para vender uma parte da sua empresa, analisar bem se você quer ou não aquele investidor como seu sócio no longo prazo (equity) e preservá-lo tem que ser a máxima prioridade - considerando esses custos mais elevados. Afinal, quanto mais sua empresa cresce e se valoriza, maior é o valor do seu equity.

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Últimas considerações

Ter uma estrutura de capital eficiente é como ir pro bar. Tem pessoas para o curto prazo e outras para a vida toda. Sempre podemos sair para beber com nosso novo melhor amigo e fazer amigos de encontros mais esporádicos juntos. Desta mesma forma, podemos utilizar equity e dívida como veículos de crescimento dentro de nossas empresas. Os dois possuem uma função essencial no crescimento do seu negócio. Ficando cientes dos limites, o importante é ter parceiros que te acompanhem nesse equilíbrio e procurem o sucesso de longo prazo de seu negócio.

No caso da Divibank, nós acreditamos na essência da dinâmica de equity e dívida sendo combinadas para crescimento de uma empresa. Nossos clientes também se beneficiam dessa estratégia, contando conosco e outros formatos de investimento para levantar rodadas grandes.

Quer saber mais? Acesse nosso site para entender em detalhes. Esperamos poder te acompanhar nessa jornada!

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